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Sabemos que os bancos são estáveis e confiáveis. Sabemos também que as fintechs são inovadoras e assumem riscos. Essa relação é crucial para a economia, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.

Ao longo da última década, as empresas de tecnologia financeira — ou fintechs, em resumo — passaram de concorrentes dos bancos tradicionais para se tornarem partes integradas da cadeia de serviços financeiros. Agora, os reguladores estão lutando para controlar essas parcerias. No Brasil, o Banco Central tem atuado ativamente na regulamentação do setor, promovendo iniciativas como o Pix e o Open Banking, que visam integrar bancos e fintechs de maneira segura e eficiente.

O Papel da Regulamentação no Setor Financeiro

O Caso Synapse: Um Alerta Para a Regulação de Fintechs

Após a surpreendente falência da empresa de fintech Synapse nos EUA, o Conselho de Diretores da Federal Deposit Insurance Commission (FDIC) propôs no mês passado regras que fortaleceriam significativamente o registro de depósitos que os bancos aceitam de terceiros não bancários, como fintechs. No Brasil, casos semelhantes levaram os reguladores a reforçar a supervisão sobre as operações das fintechs e suas parcerias com bancos tradicionais.

Mas isso é apenas a ponta do iceberg quando se trata de enfrentar as lacunas na regulamentação das parcerias entre bancos e fintechs. Logan Allin, sócio-gerente e fundador da gestora de ativos Fin Capital, investidora em empresas de software fintech, disse que os reguladores precisam ser mais ativos ao abordar essas questões. No contexto brasileiro, especialistas também apontam para a necessidade de um ambiente regulatório que equilibre inovação e segurança, permitindo que fintechs como Nubank, Banco Inter e C6 Bank cresçam de forma sustentável.

Parcerias Entre Bancos e Fintechs no Brasil: Um Olhar Sobre o Cenário Nacional

Para os bancos, o aumento da regulamentação envolveria garantir a gestão de riscos; monitorar e testar parcerias com fintechs; e supervisão aprimorada da resiliência operacional dos bancos. No Brasil, grandes bancos como Itaú Unibanco e Bradesco têm investido em fintechs ou criado suas próprias plataformas digitais, como o Next, do Bradesco, para acompanhar as inovações do mercado.

Para as fintechs, isso significaria que os reguladores expandissem o alcance das regras existentes, especialmente quando se trata de crimes financeiros e proteção ao consumidor. A recente implementação do Open Banking no Brasil exige que as fintechs sigam padrões rigorosos de segurança e privacidade de dados, alinhando-as às exigências dos bancos tradicionais.

A falência da Synapse destacou alguns dos maiores obstáculos quando se trata de regulamentar terceiros. No Brasil, embora não tenha havido casos de falência de grandes fintechs, situações como problemas operacionais ou falhas de segurança em plataformas digitais acenderam o alerta para a importância da supervisão regulatória.

Por quase uma década, a Synapse ajudou outras fintechs a oferecer serviços bancários agindo como intermediária entre a empresa e os parceiros bancários. A maioria das pessoas nunca tinha ouvido falar dessa empresa, e muitos provavelmente não sabiam que seu dinheiro estava sendo manuseado por essa entidade amplamente desconhecida — e não regulamentada. No cenário brasileiro, estruturas semelhantes existem, onde fintechs atuam em parceria com bancos para oferecer serviços financeiros, muitas vezes sem que o cliente final esteja ciente dessa relação. Por exemplo, a Neon Pagamentos atua em parceria com o Banco Votorantim para oferecer contas digitais.

Mas em abril, a Synapse foi lançada ao cenário nacional quando entrou com pedido de falência nos EUA. Naquele ponto, um administrador nomeado pelo tribunal revelou que cerca de US$ 95 milhões do dinheiro dos clientes não foram contabilizados, afetando cerca de 116.000 contas em todos os seus parceiros bancários. Embora o Brasil não tenha enfrentado uma crise dessa magnitude, o caso serve como alerta para os riscos potenciais dessas parcerias não regulamentadas.

Após o ocorrido, o Federal Reserve alertou sobre uma série de riscos ligados à dependência excessiva dos bancos dessas parcerias, incluindo a eliminação ou redução dos controles de depósitos de um banco, a falha dos bancos em cumprir os requisitos regulatórios e a falta de conformidade com leis e regulamentos de proteção ao consumidor. No Brasil, o Banco Central também tem enfatizado a importância da gestão de riscos e da conformidade regulatória nas parcerias entre bancos e fintechs.

As agências separadamente solicitaram informações da indústria sobre uma série de arranjos entre bancos e fintechs, incluindo depósitos, pagamentos e produtos e serviços de empréstimo. Através desse “pedido de informações”, as agências buscam contribuições sobre a natureza e as implicações dos arranjos entre bancos e fintechs e suas práticas de gestão de riscos à medida que começam a construir regulamentações para o setor. O Banco Central do Brasil também tem promovido consultas públicas para aprimorar a regulamentação do setor, envolvendo tanto bancos quanto fintechs.

Uma das maiores razões pelas quais os bancos fazem parceria com fintechs é para modernizar e inovar — áreas em que os bancos não necessariamente se destacam. No Brasil, essa tendência é evidente. O Banco do Brasil, por exemplo, firmou parceria com a startup de inteligência artificial Theta para melhorar seus processos internos e atendimento ao cliente.

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Os Desafios e Benefícios da Colaboração Entre Bancos e Fintechs

Parcerias com fintechs ajudam os bancos a construir tecnologia em cima desse núcleo para integrar ferramentas modernas, como APIs que permitem que bancos e terceiros se comuniquem entre si para pagamentos móveis e open banking. A implementação do Pix no Brasil é um exemplo bem-sucedido dessa colaboração, onde bancos e fintechs trabalham juntos para oferecer pagamentos instantâneos aos clientes.

Inovações Tecnológicas no Sistema Bancário: O Papel das Fintechs

Algumas instituições financeiras substituíram completamente sistemas legados por plataformas mais modernas. O JPMorgan Chase (JPM), por exemplo, substituiu seu sistema bancário central dos EUA pelo Vault, um sistema nativo em nuvem da fintech britânica Thought Machine em 2021. No Brasil, o Banco Original nasceu como um banco totalmente digital, utilizando tecnologias de ponta para oferecer serviços bancários sem agências físicas, e mantém parcerias com diversas fintechs para expandir seu portfólio.

Mas é preciso fazer mais para permitir que bancos e seus parceiros fintechs inovem, ao mesmo tempo, garantindo a estabilidade do sistema financeiro. E não está claro de onde virá esse impulso. No Brasil, a expectativa é que o marco regulatório do Open Banking e a iniciativa do Open Finance possam fomentar essa inovação com segurança.

É improvável que reguladores que são geralmente avessos ao risco e bancos que são indubitavelmente avessos ao risco sejam necessariamente as partes certas para criar o equilíbrio certo entre segurança, solidez e inovação. Entretanto, por outro lado, essa questão não pode ser completamente respondida pelas fintechs.

Portanto, o que precisa ser respondido é: quanto os bancos estão confiando nas fintechs para realizar funções bancárias importantes, como revisar documentos internos e monitorar registros financeiros? No contexto brasileiro, essa questão também é relevante, já que a terceirização de serviços críticos para fintechs pode trazer riscos operacionais e de conformidade.

O risco, para simplificar, é quanto dos serviços bancários ou dos serviços que os bancos normalmente oferecem são terceirizados para a fintech. Se for apenas a tecnologia e como a interface do usuário interage com o público, faz sentido. Mas se for a escrituração contábil, as obrigações legais e a tecnologia, então talvez tenhamos que começar a pensar em supervisão de uma maneira mais proativa.

Outras principais áreas de parceria entre bancos e fintechs incluem facilitação de pagamentos e movimentação de dinheiro, gestão de fraude e risco e carteiras móveis — todas as áreas que exigem acesso à tecnologia e conhecimento que a maioria dos bancos não possui ou que são difíceis de desenvolver capacidade por conta própria. No Brasil, empresas como a Stone e a Cielo atuam em parceria com bancos para oferecer soluções de pagamento e máquinas de cartão, ampliando o alcance dos serviços financeiros.

Em 2019, o número médio de parcerias com fintechs por banco era de 1,3, de acordo com dados da empresa de consultoria bancária Cornerstone Advisors. Em 2021, esse número quase dobrou para 2,5. Nesse mesmo período, o investimento médio em dólares em fintechs pelos bancos mais que quadruplicou para US$ 9,69 milhões, de US$ 2,3 milhões. No Brasil, embora não tenhamos dados específicos, é notório o aumento dos investimentos de bancos em fintechs. O Itaú Unibanco, por exemplo, criou o Cubo Itaú, um hub de inovação que apoia startups e promove a colaboração entre empresas de tecnologia e o setor financeiro.

Em 2021, Citigroup (C) e Goldman Sachs (GS) foram os dois bancos que investiram no maior número de startups, com 25 e 22, respectivamente, de acordo com um relatório da Visa publicado em novembro passado. No Brasil, o Banco Santander tem investido em fintechs através do programa Santander InnoVentures, buscando soluções inovadoras para integrar ao seu portfólio de serviços.

O Citi continuou a aumentar seus investimentos neste campo. Em março de 2022, começou a colaborar com a IntraFi para facilitar “deposit sweeps”, um processo em que o dinheiro é movido automaticamente entre contas para gerenciar saldos de caixa e obter retornos maiores. No Brasil, o Banco BTG Pactual tem investido em fintechs para expandir sua atuação no mercado de crédito digital.

O Futuro das Parcerias Entre Bancos e Fintechs

Apesar dos desafios, há um benefício tremendo em unir bancos e fintechs. Talvez somente precisemos ser coletivamente cuidadosos sobre como fazemos isso, e vai exigir um equilíbrio de interesses. Os bancos e seus apoiadores não vão ficar felizes.

As fintechs e seus apoiadores provavelmente também não vão ficar felizes, mas há muito dinheiro a ser feito, muita melhoria na economia a ser alcançada e muita riqueza a ser criada, permitindo que essas duas partes cooperem de uma maneira que seja pensativa e benéfica.

Equipe Diletta Pay

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